Ator Wagner Moura entra na música e lança o primeiro CD de sua banda

O ator e agora cantor tem canções tem com sofisticação adulta e a afinidade entre a melancolia do rock britânico - sobretudo da década de 80.

Chegando ao estúdio para o ensaio da banda, em Salvador, o baixista Serjão Brito pergunta ao vocalista Wagner Moura se ele viu sua case e ouve a resposta: "Está no meu carro, pega lá." Ingenuamente, Brito solta: "Mas você botou no fundo?" As palavras detonam uma explosão de "opas", gargalhadas e sorrisos maliciosos entre os músicos, enquanto o baixista tenta se defender sem muito sucesso do ataque adolescente - vindo de uma turma de marmanjos na casa dos 30. Sua Mãe tem dessas.

A cena revela muito da relação entre os sete integrantes da banda baiana de nome engraçadinho - formada há 18 anos, quando eles eram realmente adolescentes, colegas de colégio -, mas pouco da música de gente grande que mostram em "The very best of the greatest hits" (independente), CD de estreia cujo show de lançamento no Rio está marcado para o próximo dia 20, no Teatro Odisseia.

Ou melhor: pelo diálogo, dá, sim, para se vislumbrar um tanto do que é o som do grupo. Afinal, difícil pensar que não há algo de humor adolescente numa banda que carrega em seu nome tal marca:

- É nome de banda de garoto, >ita

Ou variações mais sacanas, como a que Brito, agora no ataque, dirigiu ao repórter, para explicar que tocava apenas na banda:

- Sou fiel à Sua Mãe.

Definir a Sua Mãe por aí, porém, é ficar na superfície. Os interesses dela vão muito além da piada fácil. O conceito que amarra suas canções tem sofisticação adulta: a afinidade entre a melancolia do rock britânico - sobretudo da década de 80 (Smiths, Joy Division, Cure) - e a que viceja na tradição brasileira que se convencionou chamar de cafona (Reginaldo Rossi, Waldick Soriano, Odair José).

- Prefiro o termo música superpopular brasileira, MSPB. Não existia essa hierarquia para mim em Rodelas (cidade onde o ator/cantor nasceu), nos botecos do sertão era tudo misturado - diz Moura, chamando atenção para a proximidade entre Smiths e Odair José. - Se você ouvir versos como "And if a ten ton truck kills the both of us/ To die by your side, well, the pleasure and the privilege is mine" ("Se um caminhão de 10 toneladas matar nós dois/ Morrer ao seu lado, bem, o prazer e o privilégio é meu", de "There's a light that never goes out", do Smiths), isso é quase "Eu vou tirar você desse lugar" (de Odair).

Fonte: O Imparcial On Line