Wagner Moura: Brega e chique
Em cartaz no Rio com a peça 'Hamlet', de Shakespeare, ator se vira nos 30 e ainda encontra tempo para a banda 'Sua Mãe', na qual cantas 'letras do coração arrebentado'

Wagner foi 'espionado' pela própria mulher, Sandra, nos ensaios de Hamlet


No peito de Wagner Moura bate orgulhosamente um coração brega, no ritmo de ‘Eu Vou Tirar Você Desse Lugar’, de Odair José, ou dos sucessos de Reginaldo Rossi e Márcio Greyck. Enquanto quebra a cabeça como produtor e protagonista da peça ‘Hamlet’, sobre o atormentado príncipe dinamarquês da obra de William Shakespeare — produção de R$ 1 milhão —, Wagner desopila a tensão no palco com a Sua Mãe. O durão Capitão Nascimento do cinema é também vocalista e letrista da banda, cantando com humor o ‘amor que dói’.

“Os atores da Bahia se viram nos 30”, brinca Wagner, 32 anos, que tem se apresentado com o grupo em várias capitais.

Sua Mãe nasceu como banda de garagem do baiano em Salvador, nos anos 90, quando ele e seis amigos faziam cover do The Cure — de sucessos como ‘Boys Don’t Cry’. Sem a maquiagem dos ingleses, que fique claro. “A voz do Wagner era igual à do vocalista do Cure, Robert Smith. Mas ele era chamado mesmo de Óvni, magrinho e de cabeça grande. E ele ri disso”, entrega o guitarrista do grupo, Gabriel Carvalho, 33 anos.

Na Internet (www.myspace.com/bandasuamae), já colecionam centenas de fãs. “O mundo é brega e me rendi total!”, diz a internauta Jane Santa Cruz. “O som de vocês é mara!”, entusiasma-se Wilson Granja. No site, dá para ouvir a tresloucada ‘Clóvis’ — com letra totalmente nonsense — e as doídas ‘Não Me Bata de Novo’ e ‘Menina Malcriada’. As três fazem parte do CD demo da Sua Mãe: ‘The Very Best of the Greatest Hits of Sua Mãe — demo vol. 1’, sempre interpretadas com tom melodramático pastelão, sussurros românticos e humor sutil.

“A confraria dos baianos é uma galera unida. Fazemos rock’n’roll com letras do coração arrebentado”, ri Wagner, que se diz muito bem casado com a ex-colega de faculdade de Jornalismo, Sandra Delgado, com quem tem Bem, 2 anos.

“Eu amo a minha mulher”, se declara.

Dores de ciúmes, só nas letras, garante. Tudo tranquilo com as cenas quentes de quando interpretava o Olavo, da novela das oito ‘Paraíso Tropical’, ou o amor sem pudor com Letícia Sabatella no filme ‘Romance’.

Eu faço essas cenas sem problemas, me entrego”.

Em ‘Hamlet’, em cartaz no teatro Oi Casa Grande, no Leblon, foi observado bem de perto pela própria mulher. Ela o seguiu com uma câmera durante os quatro meses de ensaio. Uma pequena parte das 200 horas de gravação virou ‘Além Hamlet’, programetes exibidos no canal por assinatura Multishow. Mas a ambição do casal é transformar o material em filme sobre teatro.

“Por ter sido ela, que é uma pessoa em que confio, fui me acostumando, e até esquecia que ela estava lá. Talvez seja assim no ‘Big Brother’”, compara.

A própria montagem, dirigida por Aderbal Freire-Filho, está na ‘era da espiadinha’, com câmeras e telão em cena.

“Shakespeare era meio ‘Big Brother’, com as pessoas espiando os outros o tempo todo, as pessoas fingem como no ‘Big Brother’”, constata o ator.

Secretário Nascimento

Quando o diretor José Padilha recebeu o Urso de Ouro por ‘Tropa de Elite’ no Festival de Berlim, em fevereiro de 2008, Wagner já não estava mais na cidade. Tinha voltado ao Brasil preocupado com os ensaios de ‘Hamlet’. Mas os dois vão trabalhar juntos, criticando a polícia em ‘Tropa 2’, em que Wagner volta como o Capitão Nascimento, que agora será secretário de Segurança.

“Vai ser melhor do que o primeiro. Vamos falar das milícias, criticar a promiscuidade da política e da polícia”, conta Wagner, que também fará ‘Nunca Antes na História desse País’, também do diretor e sobre políticos corruptos em Brasília.

Padilha lembra um dos momentos difíceis das filmagens de ‘Tropa’, na comunidade Tavares Bastos, perto do batalhão do Bope. Filmavam a cena em que o Capitão Nascimento torturava a namorada de um traficante e dois policiais do Bope apareceram. “Eles viram a forma violenta como Nascimento colocava a menina no ‘saco’ e me chamaram: ‘Diretor, explica para o Wagner que o procedimento está errado. Nesse tipo de ação, colocamos almofada sob os joelhos da vítima, para não deixar marcas quando ela se debate pela falta de ar. E é preciso colocar um ‘tape’ em sua boca, senão ela morde o saco’. Conversei com o Wagner, e estupefatos, corrigimos o ‘procedimento’. Seria cômico se não fosse trágico”, relembra.

Já o roteirista Bráulio Mantovani diz o que é preciso para fazer a continuação de filme de sucesso: “Cara de pau”, brinca. Também com roteiro de Mantovani, Wagner será o protagonista de ‘Vips’, que será rodado em setembro, dirigido por Tonico Mello, da O2 Filmes, de Fernando Meirelles. ‘Vips’ mostra o picareta que se fez passar pelo filho do dono da Gol e levou um grupo de famosos ao Recifolia. O falsário deu entrevistas até para Amaury Jr., mas foi parar na cadeia.

TV O DIA: Veja entrevista com Wagner Moura.

FOTOGALERIA: Wagner Moura em fotos

Fonte: O Dia Online
Texto editado por Andressa Santos